A ESCRITA COMEÇOU COM DESENHOS
Editorial por ANTONIO MIRANDA
Sabemos que “a escrita começou com desenhos”, depois empregando sílabas, tornando-se cada vez mais abstratos, conforme explica Robert Bringhurst em sua obra “A formação sólida da linguagem” (p. 16). Na mesma direção, Eric Gil (citado p. 19), “as letras são coisas e não imagens de coisas”.
“Arte verbal” foi a denominação que nós usamos – quando eu andava pela Argentina, em 1962, e participava de exposições com o célebre Grupo Madi, liderado por Guyla Kosice, para explicar a iconização da palavra, como fizemos no poema visual ”DESEMBARQUE”:
|
E não deixaremos de registrar, aqui, o encontro com Jorge Luís Borges, aquela época na direção da Biblioteca Nacional da Argentina, que visitei, na companhia de nosso amigo comum, o escritor Manuel Mujica Lainez. Borges disse, então, que a língua portuguesa falada no Brasil, depois do italiano, “a língua mais foneticamente bela do mundo”, sendo digna de admiração, e me pediu para ler um poema meu, em minha língua pátria. Eu expliquei que, naquele momento, eu estava participando de uma mostra de “poesia visual”, (constrangido) diante de um deficiente visual, no caso do maior escritor argentino que eu visitava... Ele pediu, então, para eu explicar um dos meus poemas visuais. Assim, eu disse, deslocamos a letra “E” do final da palavra DESEMBARQUE, e colocamos no início, deixando um espaço livre. “Depois trazemos as letras “EU”, depois “QUE” até “DESEMBARQUE”. Borges adiantou-se:
“Você criou dois triângulos com as letrs, em decrescente e outro, crescente, e no translado se movem as letras iconicamente, e foneticamente.” Algo assim, ele disse!!! Exercício semiótico e iconográfico. Ele “viu” o poema melhor do que eu! “É a verbivocovisualidade” da poesia concreta”. [Agora, na pós-modernidade, é possível, pela “Anima” tecnológica, apresentar as letras em movimento: a animaverbivocovisualidade...]
|